quinta-feira, 12 de julho de 2007

Aquecimento global já provoca extinção de espécies...


WASHINGTON - Espécies de animais e plantas estão começando a extinguir-se ou a sofrer mutações bem antes do esperado por causa do aquecimento global, revela uma revisão de centenas de estudos científicos divulgada ontem. Essas mudanças foram recebidas com surpresa até mesmo por renomados biólogos e ecologistas por causa da velocidade com que vêm ocorrendo. Pelo menos 70 espécies de rãs, a maioria delas antes presentes em montanhas e que não tinham para onde fugir do calor crescente, foram extintas por causa do aquecimento global, assegura a análise. O trabalho também afirma que entre cem e 200 outras espécies que dependem de temperaturas baixas para sobreviver, como pingüins e ursos polares, enfrentam perigo iminente de extinção. "Por fim, estamos vendo espécies sendo extintas", lamenta a bióloga Camille Parmesan, autora da avaliação. "Agora temos as provas. Está aqui. É real. Não é só uma intuição dos biólogos. É o que está acontecendo", denunciou. A reavaliação de 866 estudos científicos foi compilada no periódico especializado Annual Review of Ecology, Evolution and Systematics. Parmesan revela ter detectado tendências de deslocamento de populações de animais para mais perto dos pólos, quando possível. Ela também constatou mutações nas espécies para suportar o calor ou plantas florescendo mais cedo, além de um aumento na proliferação de pragas e parasitas. A bióloga e outros pesquisadores vinham prevendo essas mudanças havia anos, mas ela mesma se disse surpresa com a evidência de que os processos já estão em curso. Parmesan esperava esses resultados para dentro de uma década. Há cinco anos, os biólogos imaginavam que os efeitos nocivos do aquecimento global sobre os seres vivos só apareceriam num futuro mais distante, comentou o professor de ecologia da Universidade de Nova York, Douglas Futuyma. "Sinto como se estivéssemos olhando para crise olho a olho", disse ele. "A coisa não está parada em algum ponto na estrada à nossa frente: está vindo a toda em nossa direção. Qualquer um com dez anos de idade hoje encarará um mundo muito diferente e assustador quando chegar aos 50 ou 60", prevê. Embora outros estudos já tivessem apontado problemas causados pelo aquecimento global em áreas ou espécies individuais, o trabalho de Parmesan é o primeiro a mostrar o quadro geral das alterações induzidas pela mudança climática, afirma Chris Thomas, professor de biologia na Universidade de York, Inglaterra. Embora seja impossível provar, acima de qualquer dúvida, que as mudanças anotadas na análise são efeito do aquecimento global, a evidência é tão forte e a falta de outras explicações plausíveis é tão grande que é "virtualmente impossível, estatisticamente, que essas sejam meras observações ao acaso". As mudanças mais fáceis de notar, em plantas e animais, envolve a antecipação do início da primavera, diz Parmesan. O melhor exemplo aparece no florescimento antecipado de cerejeiras e na colheita precoce da uva, e em 65 espécies de pássaros da Grã-Bretanha, que hoje põem os primeiros ovos nove dias mais cedo do que há 35 anos. Parmesan diz preocupar-se mais com as espécies bem adaptadas ao frio, como os pingüins imperadores, que já caíram de 300 casais reprodutores para apenas nove na parte Oeste da Península Antártica.

Tribuna da Imprensa

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